terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Contribuições e balanço final de 2015

Nossa Casa já tem duas 'contribuições fidelidade'. Conforme o estatuto, o maior contribuinte terá a escritura definitiva da próxima unidade, respeitados os fundamentos do projeto. As contribuições de 2015 estão contabilizadas e arquivadas. A maior contribuição somou um total de 400 reais e a segunda maior contribuição foi de 300 reais. O total das quatro contas abertas para depósito já chega a quase mil reais. Como eu aposto tudo o que tenho neste projeto, a minha contribuição já não se contabiliza já que ela irá se estender pela eternidade. Quero dizer, já tenho uma escritura definitiva. Minha missão agora é fazer com outros possam alcançar este bem máximo. O objetivo do projeto é fazer com que cada investidor seja reconhecido um dia pela humanidade como verdadeiro libertador, pois em meio ao caos conseguiu com humildade e senso crítico identificar entre tantas possibilidades, pelo menos uma capaz de encaminhar a transição para uma nova era. Era em que as mentiras, as corrupções e violências de ser humano contra ser humano ficaram no passado. A próxima unidade contando apenas com esses dois contribuintes fiés, e com as minhas forças, se não houver nenhum percalço, deverá se tornar visível em no máximo três anos. Bem aventurados esses investidores porque têm fome e sede de justiça e por isso serão saciados. Bem aventurados, pois são mansos e humildes, mas não são burros, por isso vão possuir a terra. Bem aventurados porque acreditam na possibilidade de um ser humano liberto e não se deixam guiar como cegos, mas andam de olhos bem abertos e repudiam toda mentira e corrupção. Bem aventurados porque não serão enterrados numa tumba fria de onde jamais sairão, mas viverão eternamente num palácio real, construído sobre a rocha, a Nossa Casa.


agência: 223-2
Conta: 49227-2
Variação : 51
Cliente : ALCEU JOAO GREGORY
Saldo total 728,52 C
31/12/2015 04/01/2016 1 Juros 223-2 0 0,50 C 728,52 C
31/12/2015 04/01/2016 1 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,23 C
31/12/2015 04/01/2016 3 Juros 223-2 0 0,51 C
31/12/2015 04/01/2016 3 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,15 C
24/12/2015 28/12/2015 27 Juros 223-2 0 0,26 C 727,13 C
24/12/2015 28/12/2015 27 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,08 C
22/12/2015 23/12/2015 23 Juros 223-2 0 0,75 C 726,79 C
22/12/2015 23/12/2015 23 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,28 C
21/12/2015 21/12/2015 21 Poupanca Planejada 6570-6 9.784 100,00 C 725,76 C
21/12/2015 22/12/2015 22 Juros 223-2 0 0,03 C
21/12/2015 22/12/2015 22 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,01 C
18/12/2015 21/12/2015 21 Juros 223-2 0 1,01 C 625,72 C
18/12/2015 21/12/2015 21 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,32 C
04/12/2015 07/12/2015 6 Juros 223-2 0 0,06 C 624,39 C
04/12/2015 07/12/2015 6 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,02 C
02/12/2015 03/12/2015 3 Juros 223-2 0 0,51 C 624,31 C
02/12/2015 03/12/2015 3 Reajuste Monetário - BACEN 223-2 0 0,22 C
01/12/2015 01/12/2015 1 Transferência de Crédito 6986-8 9.460 100,00 C 623,58 C
30/11/2015 Saldo anterior 523,58 C 523,58 C
Data Balancete Dia base Histórico Origem Documento Valor Saldo
a

sábado, 2 de janeiro de 2016

O Fausto de Goethe Como Modelo de Inspiração Para o Projeto Nossa Casa Nossa Casa – Um Outro Mundo



Titel: Goethes Faust als Inspirationsmodell für das Projekt Unser Heim
Untertitel: Unser Heim – Eine andere Welt
Title: The Faustian myth as inspiration model for the project Our Home
. Subtitle: Our Home – Another World

Palavras-chave: Literatura – Inspiração – Criação – nova Realidade
Schlüsselwörter: Literatur – Inspiration – Schöpfung – neue Wirklichkeit
Key-words: Literature - Inspiration - Creation - new Reality


“Quisera eu ver tal povoamento novo, e em solo livre ver-me em meio a um livre povo.” (vv. 11579-80). Estas foram as minhas últimas palavras no discurso final e a síntese do meu pacto com Mefisto. Depois minha alma foi redimida e elevada aos céus para junto de Deus, apesar de nada ter feito para merecer esta redenção, pois meu único anseio era o de satisfazer meus apetites egoístas e navegar na crista do poder. Hoje aqui estou, não em carne e osso, as minhas impressões digitais não são as mesmas, mas estou aqui descido do céu em espírito, como encarna o Preto Velho no Pai de Santo e venho apresentar-vos o meu novo projeto: a pedra filosofal, a panaceia universal à qual aspirava sofregamente na ocasião do pacto com Mefisto. O elixir está pronto, desta vez não foi produzido na casa das bruxas, mas trago-o da casa de meu pai, perfeito, sem falsificações, gratuito, disponível para quem quiser experimentá-lo durante vinte e quatro horas todos os dias até o final dos tempos. Na verdade, o tempo para mim já acabou, pois agora gozo de uma juventude eterna. Pede-se para quem consegue me ouvir aqui do outro lado a colaboração de um real mensal, valor de um bloco de concreto, para que eu possa ir construindo a sua Nossa Casa quando vier para o lado de cá.
Estou falando de uma casa ao vivo e a cores, localizada na rua Francisco Holmo, 395, em Assis, SP.
Esta Casa é um mundo... uma cadela,
Talvez. Mas na superfície da terra
Nunca casa nenhuma foi tão bela.

É necessário parafrasear os poetas, pois falar de Nossa Casa sem poesia seria como falar do poeta sem tocar nos seus versos. Mas nem mesmo a genealidade de Vinícius ou de Goethe ou de qualquer outro poeta seriam suficientes para aproximarmo-nos dos fundamentos da Nossa Casa seja em verso ou em prosa. Portanto, o que faço aqui são obras do ofício, tentar traduzir o que não se deixa reduzir a palavras. Na tradução da Bíblia em meu gabinete de trabalho, onde se lê “Era no início o Verbo” (v. 1224) optei por uma tradução livre “Era no início a Ação!” (v. 1237) Nossa Casa não são palavras, ela é acima de tudo a palavra concreta, uma ação. Tentar traduzi-la em palavras será sempre mostrá-la parcialmente e nunca no seu todo.
Ela pode ser de fato uma cadela, melhor, duas, completamente pretas que me acompanharam até a casa sem serem convidadas e enquanto escrevia estas páginas ficaram latindo não para mim, mas para os passantes, como para convidá-los a entrar, pois sabem que quando tem visita elas também se aconchegam. Dessa forma faz-se justiça aos cães, pois se em Fausto I eles representam a encarnação do maligno “do perro era esse o cerne, então?” (v.1322) e por conseguinte não são aceitos,
“Se te aprouver ficar no quarto,
Cala o latir, perro! Estou farto
Do uivo e ganido!
Hóspede tão intrometido
Eu não admito aqui comigo.” (vv. 1238-42)

Em Nossa Casa os cães encarnam a essência do divino representado sobretudo pela fidelidade. Mas o que é a fidelidade em Nossa Casa?
Tendo sido arrebatado ao céu ao final do ato cinco, pude ver com meus próprios olhos como o céu é formado, e experimentar as leis que o sustentam. Deste modo, na minha fidelidade ao céu, tornou-se possível trazer para a terra um modelo em miniatura. Nossa Casa é esse modelo. Assim como no céu, não há nela nenhum muro ou cerca elétrica para protegê-la, como também não há chave para trancá-la. Estas coisas poderiam fazer com que alguém se sentisse excluído ou impedido de entrar, então já não poderia ser mais o céu, pois lá nunca ninguém é excluído ou barrado por esses mecanismos de segurança. Assim como no céu tudo o que existe em Nossa Casa é de todos, pois do contrário as disputas pela água, pelas terras seriam intermináveis. Já que tudo é de todos, o uso de dinheiro não fará mais sentido algum, quando ela se tornar um macrocosmo. No fundo, encontrei as coisas dispostas no céu como está escrito nas Escrituras.
Passagens centrais das Escrituras como “Não podeis servir a dois senhores a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24), “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito” (Mt 5,48), “Não temam aquele que mata o corpo e não pode matar a alma” (Mt 10,28) realmente são cumpridas.
Antes de ser arrebatado para o céu, tive de percorrer um longo caminho. Quem leu com cuidado os mais de doze mil versos conhece a minha trajetória e sabe como infernizei a vida da Gretchen, sendo responsável direto ou indireto pela perda do seu irmão, de sua mãe, de seu filho e pela execução final dela. E como continuei depois auxiliado por Mefisto a minha ascensão na carreira dentro do palácio do imperador, minha participação na trama para a implantação do papel moeda, meu projeto colonizador, a eliminação do casal Filemon e Baucis. Como se explica que apesar de tanta maldade, hoje estou aqui são e salvo falando diretamente do céu?
Meu criador, Goethe, suspendeu a pena justamente por ocasião da minha morte, indicando nos versos finais bastante enigmáticos que a minha alma estava sendo salva. No fundo ele sabia que depois da minha elevação eu voltaria em espírito para explicar com detalhes esta ascensão aparentemente miraculosa. E é justamente por isso que estou aqui. Cabe dizer que desde a minha morte física até este momento transcorreram quase duzentos anos. Esse é o tempo que precisei para entrar no céu e voltar para narrar a história.
A ascensão não foi de modo algum gratuita. A última cena “furnas montanhosas, floresta, rochedo” indicam a trajetória do meu espírito. Na verdade, todos esses anos estive numa espécie de purgatório. O purgatório nada mais é do que a morte física, a separação da essência da alma do corpo, onde cessa todo o movimento físico na busca constante da satisfação egoísta e o espírito agora separado daquele corpo não pode mais retornar por vontade própria a um outro corpo, pois jaz numa tumba fria, obscura, fechada: nada mais do que um livro. Toda vez que alguém abre este túmulo, imediatamente a alma daquele corpo já desaparecido se manifesta e nos revela em mil palavras a sua essência. Tudo o que ele quer é convencer-nos a libertá-lo daquela situação desconfortável e trazê-lo de volta à vida. O pacto que nos propõe pode ser assim formulado: “Se me libertar vou proporcionar-lhe ‘a experiência máxima da vida’”. E este foi de fato o pacto que fiz com Mefisto: tirei de mim o espírito divino e deixei penetrar o dele. Caminhando com ele em todas as instâncias não conseguiu no entanto me proporcionar aquela sensação de plenitude que prometera. O meu desabafo derradeiro ao final da obra “Quisera eu ver tal povoamento novo, e em solo livre ver-me em meio a um livre povo” (vv. 11579-80) é na verdade a essência do divino. O elemento mefistofélico jamais poderia realizar este desejo, já que uma terra livre, um povo livre não poderá existir de modo algum se a satisfação dos meus apetites não levar em conta os prejuízos causados ao outro. Um espírito avançado tem a capacidade de se projetar no futuro em retrospectiva fora do corpo já putrefato. Essa é a essência de todos os poetas e profetas. Nessa dinâmica, para chegar ao céu precisei então renascer e provar através das minhas obras o feito maravilhoso de eliminar por completo a magia de Mefisto.
O espírito pactuado com Deus é então aquele que não morre e mesmo que morra tornará à vida. O maligno está condenado à morte. Ou se está pactuado com Mefisto ou com Deus. Não existe meio caminho. Fidelidade em Nossa Casa portanto é estabelecer o pacto de sangue com o céu e assim fazer justiça ao espírito divino. É subir ao céu e voltar de lá com uma réplica em miniatura e reduzir assim o vasto império de Mefisto nem que seja apenas em 250 metros quadrados. O que faço é isso: trazer de volta para dentro das vastas terras do império sombrio o espírito do casal Baucis e Filemon, devolver-lhes as terras, devolver-lhes a vida e a choupana ao lado das tilhas que sempre foi e sempre será deles. Mas é preciso fazer mais do que isto. Este casal não deve nunca mais sofrer as ameaças de Mefisto e ser vítima das suas tramas. Neste sentido, o império do Mal deve ser atacado em seu cerne. Ele transforma tudo em objeto de compra e venda. E quem não compactua com ele é eliminado à força. Como a casa do velho casal tinha valor inestimável, não era objeto de venda, Mefisto teve de eliminá-los de uma forma cruel. Estamos chegando aqui ao cerne da questão. O que fazemos com a herança que o nosso pai nos deixou? De duas uma, ou a vendemos ou a preservamos. Isto é decisivo para discernirmos entre o pacto com o Demo ou com Deus.
O casal Filemon e Baucis já aparecera em Ovídeo. Estamos portanto diante de uma herança milenar. Em sua casa preservam-se os valores centrais de uma vida levada ‘à máxima existência’. Valores estes que de geração em geração não se deixaram corromper e justamente por isso são de um valor inestimável. Não podem ser comprados nem vendidos. Quando se coloca à venda, desfaz-se toda a integridade e tem-se como resultado a figura alegórica da grande meretriz.
Como então atacar o problema? Nossa Casa não pode jamais ser objeto de venda! Ela não se vende nem se deixa penhorar e de geração em geração preserva os valores fundamentais da vida: um conjunto de ações que se harmonizam umas com as outras comandadas por leis precisas, assim como no céu, onde os astros não trombam uns com os outros. Fazer ali o pacto com Mefisto seria como sair da rota e estar predestinado a bater de frente com o astro maior e assim explodir-se. A solução é então colocar-se “em um povoamento novo”, “em solo livre” e estar “em meio a um livre povo”. Um solo nunca será livre e um povo nunca será livre se estiver cercado de muros. Construir muros é nesse sentido excluir-se a si mesmo deste outro mundo.
A essência da minha alma disputada ao final por anjos e demônios se concentra nestes dois versos. Depois de longos anos na companhia de Mefisto sem que este conseguisse me proporcionar a experiência máxima da existência, estes dois versos revelam na verdade o rompimento com ele e o retorno ao divino. Divino este que de modo algum recrimina qualquer prazer que seja. Pelo contrário, somos levados a uma vida intensa.
Neste instante estou no outro mundo e não estou sozinho como muitos imaginam. Há um povo comigo: todos aqueles que sempre foram contra os muros, que nunca ordenaram a construção de um muro e se um dia na vida se encontraram cercados por eles, quebraram-nos em mil pedaços. Só eles conseguem agora me ouvir, ver e compreender. Quanto aos que constroem muros mesmo que quisessem não poderiam me ouvir nem ver, pois os muros se levantam cada vez mais altos e espessos. Nós que estamos aqui do outro lado do muro que não foi construído por nós e que nos impede de sermos vistos e ouvidos, não podemos passar para o lado de lá, pois os muros também nos impedem a nós. Para que de fato qualquer um pudesse ver e ouvir todos os que estão aqui precisaria despedaçar seus próprios muros.
Enquanto os que se movem sobre a face da terra sonhando com este outro mundo, nós estamos aqui torcendo, tocando os tambores, batendo com toda força contra os muros das fronteiras, das casas e dos túmulos que impedem que nos ouçam do outro lado e saibam que estamos mais vivos do que nunca e toda vez que alguém se junta a nós é como quando na decisão da copa do mundo a nossa seleção faz o gol da vitória no último lance do jogo.
Mas fazer ‘gol’ tem se tornado cada vez mais improvável. É como cair uma gota d’água no deserto. Quando lembro de meu discípulo Wagner me comovo. Quanta aplicação e interesse! Como era grande a sua admiração por mim! Mas eu era cético, de modo que o deixei sozinho em meu gabinete de trabalho. Hoje daria tudo para tê-lo de volta. Estou à procura.
Logo que lancei o projeto, houve até um certo entusiasmo entre os estudantes. A casa tem dois quartos: um eu ocupo e o outro está reservado para o Wagner. Estabeleceu-se então uma certa disputa para ocupar o lugar dele. Enquanto caminhava pelos corredores da faculdade, vez ou outra alguém chegava e me parabenizava. Cheguei a ouvir frases como estas: “Nunca vi projeto mais belo”, “Voltei a acreditar no ser humano”. Um deles um dia me perguntou se podia dormir no quarto, pois estava sem lugar para morar. Além disso admirava muito o projeto. Foi assim que o quarto foi ocupado. Durante os seis meses seguintes compartilhamos o mesmo espaço, mas aos poucos pude perceber como era grande a distância entre nós. Como seria difícil trazê-lo para este outro mundo. Embora ele acreditasse que estivesse comigo, aos poucos ele mesmo percebeu o abismo entre nós.
O quarto agora está vazio. Está disponível para qualquer pessoa, aluno, docente, cidadãos de Assis ou de qualquer parte do mundo que queiram conhecer o projeto. Podem ficar lá gratuitamente por alguns dias, semanas ou meses. Foi assim que uma colega da faculdade trouxe uma professora da Noruega para conhecer o projeto. Ela pretendia ficar três meses. Quando viu a casa, ficou encantada. Mas a colega logo me perguntou se não seria perigoso dormir de portas abertas. Ao que respondi “estar vivo é correr o risco de morrer”. Assim elas se foram e não voltaram mais.
Aqui chegamos ao ponto central da reflexão: o medo de morrer. Toda segurança está disposta para que a nossa integridade física seja preservada e garantida. No entanto, todos nós sabemos que essa integridade tem os dias contados. Estar pactuado com Mefisto significa nesse sentido viver em função dessa integridade física, pois ela está acima de tudo. O que move Mefisto é a integridade física, a satisfação do corpo. O espírito está em função do corpo. Todas as artimanhas para o gozo são válidas, inclusive a magia. Por isso, não há moral nem ética nem arrependimento. Há sim a necessidade da construção de uma moral, mas esta só se aplica aos tolos, aos que ficam fantasiando a existência de seus iguais além das nuvens. Estas são de fato as vítimas de Mefisto.
Em Nossa Casa temos respeito absoluto pela integridade física. Mas temos ciência de que ela é insustentável. Por isso, acima da integridade física colocamos a construção da integridade de espírito. Colocamos a todo instante todos os nossos bens em risco, sejam eles o nosso corpo ou nossos bens materiais, para garantir a integridade espiritual. Se esta integridade se manifesta em apenas um corpo ela também não se sustenta, pois que o corpo é a sua casa. Nesse sentido, para que a Nossa Casa não morra não basta construir nela um espírito íntegro. É preciso sempre um outro corpo para abrigar a integridade de espírito e neste corpo, quando ele se apresenta, ressuscitam todos os que morreram nesta luta. Só um espírito íntegro pode ser fiel às leis que sustentam o céu.
Neste sentido, todo o meu trabalho está voltado para a construção deste espírito íntegro e considero a universidade um solo promissor para lançar esta semente. Universidade esta, onde hoje mais do que nunca encontramos largamente sobretudo uma das quatro mulheres grisalhas que aparecem na cena “Meia-Noite” do quinto ato. Refiro-me à Apreensão. Ela, a companheira angustiante, entra pelo buraco da fechadura, não importa quão altos sejam os muros ou quantas cercas elétricas garantam a nossa segurança. Esta mesma companheira, vejo-a todo dia, na fisionomia de muitos de nossos estudantes.
Em seus comentários, Albrecht Schöne reproduz palavras do professor de medicina Frank Nager (Der Heilkundige Dichter. Goethe und die Medizin [O poeta terapêutico. Goethe e a medicina], 1990) sobre esta estrofe em que a Apreensão, num atordoante tom de ladainha, fala de seu poder sobre os seres humanos: estariam presentes aqui “todos os sintomas clínicos clássicos que caracterizam o estado psíquico depressivo: obscurecimento de ânimo e visão pessimista, pensamento destrutivo e negativo, incapacidade de cumprir mesmo as menores obrigações do cotidiano, paralisia da mente, indolência interior e exterior, fixação neurótica, lentidão de todas as funções, excesso de cerimônias, indecisão paralisante, ações cumpridas pela metade, incapacidade de enfrentar o momento presente, achaques colaterais, distúrbios de sono, irradiação negativa sobre as outras pessoas.” (Apud Marcos Vinícius Mazzari. In: GOETHE, 2013: 957).
Para combater todos esses males, não só da Apreensão, mas também das outras mulheres grisalhas do ato V, assim como toda epidemia psíquica trago hoje a público o remédio universal. Remédio este destituído de toda magia ou bruxaria. Não estou aqui falando de uma utopia. Nossa Casa é visível, concreta, firme como uma rocha. Ela não se deixa corromper, não se pode falsificá-la e nem se deixa reduzir a palavras. E não há como experimentá-la a não ser através de um ato de libertação de si mesmo de um mundo repleto de muros.
Neste sentido venho para encorajar todo ancião, todo jovem, toda criança a fazer da sua vida um projeto de luta contra a morte. Não permitam que vos enterrem numa tumba fria e lacrada de onde jamais sairão. Construam durante a vida um monumento, uma casa sobre a rocha, onde estarão eternamente vivos. Assim as palavras sábias “O que passou passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre.” (GOETHE), deste que agora estamos reverenciando, tornam-se verdadeiras.
Para terminar este discurso, quero fazer jus ao meu mestre e criador. Assim como ele me salvou a mim e a minha amada ao final do Fausto II e I, permitindo que a essência de nossa alma parasse em “solo livre em meio a um livre povo”, à revelia de uma sociedade hipócrita entregue aos caprichos de Mefisto, quero agora como personagem salva por ele apelar aos que zelam pela casa de meu mestre para que a sua casa aqui na terra, a casa de Goethe, o Instituto Goethe seja também uma réplica do céu aqui na terra. Destruam os muros da Casa de Goethe para que o mestre possa estar livre numa terra livre, para que assim se realize o seu desejo máximo e desta forma possa receber todos os que desejam nutrir-se de sua sabedoria e levar suas vidas à máxima existência.

Referências bibliográficas
GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Uma tragédia. Primeira parte. Trad. Jenny
Klabin Segall. São Paul: Editora 34, 2013.
__________________________. Fausto. Uma tragédia. Segunda parte. Trad. Jenny
Klabin Segall. São Paul: Editora 34, 2013.
_________________________. Pensador. Autores. Johann Goehte.
http://pensador.uol.com.br/frase/MTA2NA/ (07/12/2015)