Assim viviam as velas, felizes por terem a luz, mas tristes por se saberem finitas. Um belo dia uma pôs-se a refletir: "Qual o sentido da minha existência senão produzir luz e se o fogo que está em mim há de se acabar? O que posso fazer para que esta chama não se acabe?"
Depois de muita reflexão e vendo que as outras se confrontavam com o mesmo problema, ela se dirigiu às suas amigas e disse: "Se nos unirmos e formarmos uma chama só, nós seremos o mesmo fogo e quando uma se consumir por completo, ela não precisa temer o fim da sua luz, ela continuará viva na chama que está acesa."
Felizes com a ideia, as primeiras doze se uniram e formaram uma chama só. Vendo que isto era bom, outras velas foram se juntando às doze, até formarem uma grande labareda, que ia se fortalecendo, de modo que nunca mais a chama se extinguiu. Alcançaram assim a vida eterna.
"Por isso te peço, ó Pai, para que sejam um como tu e eu somos um." O autoconhecimento e o senso de justiça de Jesus Cristo eram tão grandes que o levaram a entrar numa sintonia perfeita com as leis que regem o universo e a vida, superando assim o conceito de morte. "Eu sou a ressurreição e a vida! Quem crê em mim, ainda que morra viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá." A vida está nas ideias. (O nosso corpo representa a vela; as nossas ideias, o fogo). Elas são a luz do corpo e são a luz do mundo. Se as minhas ideias projetam um mundo perfeito e eu vivo este mundo perfeito, então quero me unir a mais doze, que fortaleçam esta ideia, formando um só corpo e um só espírito. Quando o meu corpo for-se embora, as minhas ideias continuarão vivas. E eu sou essas ideias. Não morrerei enquano elas estiverem vivas. Portanto, "vão e ensinem ao mundo tudo o que ensinei a vocês. Vocês são a luz do mundo. Quem vos recebe a mim recebe." Se quero viver, portanto, preciso unir-me ao outro. Ele é na verdade a minha vida. Assim como eu preciso dele, ele precisa de mim. A preocupação central está então em se ter ideias justas, fortalecer estas ideias e iluminar com elas o mundo.
Dentro deste contexto todos os ensinamentos de Jesus ganham uma força extraordinária. Levar ao outro esta luz é uma questão de vida ou morte. Aqui percebemos também porque esta união plena, só pode ser alcançada na ausência da posse. Da mesma forma como as minhas ideias não conseguem se desprender dos meus bens materiais, elas também não conseguem se desprender de mim. Elas sempre estarão orbitando em torno de mim, jamais conseguirei ultrapassar a barreira do "eu". Viverei como alguém que tem data de validade. Para romper com esta barreira, preciso sair da minha prisão. Preciso remover todos os bloqueios que me impedem de unir-me plenamente ao outro.
Aqui entendemos porque os primeiros cristãos viviam unidos e tinham tudo em comum. E eram capazes de suportar toda espécie de perseguição. Assim o pão e a água sempre serão distribuídos de modo equilibrado para todo o corpo. Estão unidos de modo a formar um só espírito e um só corpo, o que garante uma vida justa, plena e eterna. Esta forma de união trás uma perspectiva absolutamente nova. Mas devido às perseguições, em algum momento, a prática desta ideia se perdeu. E hoje o mundo aguarda a sua volta.
Jesus Cristo está para voltar, se ele precisa voltar é porque morreu. As suas ideias foram perseguidas até a morte. Mas como ele vai ressuscitar dentre os mortos? Como ele vai chegar novamente naquelas velas que estão ardendo cada uma no seu quintal, chorando aquelas que morreram? Antes disso, como ele vai reconhecer-se a si mesmo? Como ele vai saber que as ideias mortas há quase dois mil anos são as mesmas que agora voltam a estar com ele? Primeira condição: é uma ideia justa, ela posta em prática, traz o equilíbrio. Segundo: trata-se de uma ideia que até então estava morta. Terceiro: se preciso, irá para a cruz por esta ideia, mesmo que sozinho. Quarto: Não vai utilizar de armas para defendê-la.
Galileu Galilei conseguiu a duras penas provar algumas leis que regem o universo. Foi perseguido por longos anos. Só recentemente houve um pedido de desculpas, onde foram usadas as mesmas frases que Galileu usou para se justificar: "A Bíblia não está errada, é que pessoas a interpretam de modo errado."
Os que confiamos em Cristo, sabemos que as suas leis postas em prática constroem um reino justo. Precisamos unir-nos como ele ensinou e descobrir todo o poder que se oculta a quem não experimenta esta união. Estou procurando a mais de um ano publicamente pessoas que queiram se unir como os primeiros cristãos. Por que não encontro sequer um?
Como agora nada mais me prende, preparei-me durante anos para que pudesse me dedicar exclusivamente a este projeto, quero poder apresentá-lo e principalmente vivê-lo. Mas eu estou com um desafio imenso, como vivê-lo se estou sozinho? Como mostrar a sua autenticidade? Galileu tinha os astros e os seus movimentos que não o deixavam mentir. Preciso de doze pessoas que vejam o que estou vendo, elas serão os meus astros. Sem elas nada sou. Ou melhor, sou aquele que traiu Jesus. Darei a minha vida para que aqueles doze voltem a andar entre os homens, voltem a falar, voltem a se unir como naquela época.
Mas quem sou eu para que mereça ser ouvido? Como fui o único que decepcionei o Mestre, o que não entendeu aquela união, eu sou de fato o último da lista. Mas veja, até nisto as suas profecias se cumprem: "os últimos serão os primeiros". Como posso ter sido eu, o primeiro a ressuscitar dos mortos? Quem seria o próximo? Felipe? Tiago? João? Só Ele sabe! Talvez eles nunca mais queiram falar comigo! Talvez eu seja apenas o começo de uma nova história. Talvez chegou a minha hora de experimentar o que Ele experimentou. Não sei! De qualquer modo, estou feliz com a parte que me cabe.
Alceu João Gregory