sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Futebol e a Besta


O futebol é um jogo maravilhoso e vem cada vez mais encantando as plateias e conquistando o mundo. Poderia o futebol moderno, que teve início há pouco mais de um século, estar relacionado à volta da divindade para a terra?

Aparentemente não, mas se olharmos mais de perto podemos ver que o futebol tal qual se organiza é talvez um dos sinais, anunciando a volta do Messias. Em campo duas equipes rivais, onze jogadores, os onze discípulos. Mas onde estou eu? Eu sou aquele que o traiu. O camisa 12. Estou apenas na torcida, pedindo para que ele volte. Ao centro a bola, a terra, para onde se dirigem todos os olhares. As duas equipes adversárias lutam pelo domínio da bola. Em um estádio lotado, todos os habitantes da terra se empurram para ver o grande espetáculo. O jogo é em casa, todos torcendo pela terra. O adversário, o que vem de fora, não é ninguém menos do que a equipe de Jesus, derrotado e expulso da terra há dois mil anos, mas que prometeu voltar e estabelecer o Reino de Deus aqui.
Já nos vestiários, o técnico Jesus Cristo orienta os seus onze jogadores, discípulos, sobre as estratégias para um domínio perfeito sobre a bola, o mundo. Seu discurso no vestiário é mais ou menos o seguinte:

“Vocês são as forças do bem e precisam livrar a bola das forças do mal. A terra é o paraíso e precisamos protegê-la, estabelecendo um reino justo onde haja igualdade e vida em abundância. O adversário vocês já conhecem, ele é perigosíssimo. Há dois mil anos, no nosso primeiro confronto fomos derrotados não por falta de competência, mas porque foi um jogo sujo. Fomos traídos, injustiçados e eles acabaram levando o troféu.
O preço da injustiça custou caro para a bola terra e para os que amam esta bola. Muito sangue foi derramado, a violência e a pobreza se espalharam sobre ela e hoje já são mais de um bilhão de pessoas abaixo da linha da pobreza. Além disso a pureza do ar, as temperaturas agradáveis, o prazer de viver, o equilíbrio do eco-sistema estão sendo duramente afetados. Guerras, roubos, assaltos e uma infinidade de violências desfilam diariamente pelas telas da televisão.
Neste jogo de ida e volta não nos resta alternativa a não ser vencer, já que fomos derrotados no primeiro jogo. Vocês conhecem muito bem quais são as condições para jogar no meu time: nada de hierarquia, ninguém aqui é maior do que o outro, cada um tem sua posição e todas são importantes. Quem quiser ser o maior, que sirva o outro. Vocês não estão jogando por dinheiro, mas pela vida. Vocês receberam de graça, deem de graça e, principalmente, lembrem-se de que a bola é de todos. Não quero nenhum fominha, que acha que tem mais direitos sobre a bola do que os demais.
Do outro lado está o nosso adversário: Ele é violento e joga por dinheiro, hierarquia e propriedades. Toda vez que aparece alguém que paga mais, ele vai embora, vive mudando de time. O tempo todo estão disputando para angariar fama e mostrar que são melhores que os outros. Por fim, quando têm propriedades e dinheiro suficientes, já não se esforçam mais para jogar. Nós vamos explorar bem os seus pontos fracos e assim ganhar o jogo.
Mas lembrem-se: nós estamos na casa do adversário. Na arquibancada está aquele que nos traiu. Temos de jogar de tal forma que ele nos reconheça. São bilhões cantando e gritando o hino deles: “dinheiro, propriedade, hierarquia...”. A pressão inicial, portanto, vai ser enorme...
Daquela vez não havia juiz e por isso não nos deixaram jogar. Isto agora nos favorece muito. Se for um jogo limpo, eles não nos poderão vencer. Vencendo, vocês sabem que estabelecem a justiça e a paz neste grande reino da bola e mandam este adversário violento, ardiloso e trapaceiro para a segunda divisão, de onde jamais sairá.
O extraordinário será ver a torcida aos poucos se calando e ficando dividida. Ao final do jogo haverá uma grande festa, porque enfim os cegos conseguirão enxergar, os doentes serão curados, os cativos libertos e os famintos saciados. Eles vão entender o que está escrito: ‘Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.’ (Mt 25,34-36)
Mas enquanto a torcida está contra nós e o jogo não começa temos de suportar ainda por pouco tempo este hino horrível: ‘dinheiro, propriedade, hierarquia...’. Esta é a história do Papai Noel deles.
O incrível de tudo isto é que vocês, meus fiéis seguidores, são vistos por eles como a força do mal. Vocês representam para eles o Anticristo, o que é possível de entender, já que somos rivais, mas, pasmem, eles usam por baixo do uniforme camisas com o meu nome e espalham faixas usando minhas palavras como ‘Jesus está chegando’. Num jogo histórico, em 2008, o goleiro Clemer, do Sport Club Internacional, clube aclamado naquela noite como campeão de tudo, na entrega do troféu exibia a seguinte faixa: ‘arrependei-vos, Jesus está chegando’. Aliás, o distintivo deste time carrega na bandeira e no uniforme as letras sobrepostas SIC, que podem ser lidas como Senhor Inri Cristo. Em 2006 este mesmo time conquistara o título de campeão mundial, trajando uniforme totalmente branco, em 2010 sagrou-se novamente campeão da taça Libertadores. Foi o time de maior projeção internacional na última década, dando sinais do que está por vir. Assim está nas escrituras:

‘Vi ainda o céu aberto: eis que aparece um cavalo branco....Seu cavaleiro, fiel e verdadeiro, está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus.... Ele traz escrito no manto e na coxa: Rei dos reis e Senhor dos Senhores...’ (Apoc 19, 11-21)

O time de futebol mencionado acima não tem nada a ver com a justiça. Ele se presta apenas para que um cavaleiro, torcedor deste time, se identifique como sendo ele próprio a verdadeira besta. Com a inscrição SIC (Senhor Inri Cristo) no manto (camisa) e na coxa (calção) é ele na verdade Judas, o traidor, que durante dois mil anos sob a minha insígnia, usou e abusou de mim. Ele está na torcida. Com o manto tinto de sangue, encharcado de violência e traição, usou o meu nome, Jesus Cristo, representado pelo cavalo branco, para dar crédito às suas aventuras nefastas pelo mundo afora. A maior astúcia do demônio foi entrar em Judas Iscariotes e assumir a minha identidade, falar em meu nome durante quase dois mil anos. Mas este Judas, da mesma maneira que deixou o demônio se apossar dele, e contaminar toda a terra, vai expulsá-lo da sua mente, e reunir um exército a meu favor.

Em outra passagem das escrituras também se ilustra a nossa situação para o jogo que vai começar:

‘Mas quando vier o filho do homem, acaso achará fé sobre a terra’? (Lc. 18,8)

Mas não se preocupem com a torcida. Concentrem-se no jogo. Façam o que vocês sabem fazer e naturalmente chegarão à vitória. Depois daquele primeiro jogo apareceram muitos na terra falando em meu nome, dizendo que eram eu e seduziram toda esta gente. Mas imitam-me apenas nas palavras e colocam o mal onde ele não está e cantam hinos ao verdadeiro mal, que inunda a terra de sangue e vergonha. Vamos hoje dar um basta nisto, já está na hora, entrem lá e mostrem quais obras acompanham aqueles que jogam no meu time.”
No primeiro jogo ficou claro o poder deste time. Onze jogadores com seu técnico conquistaram o mundo, levando a sua palavra até os confins da terra. No entanto, o primeiro jogo foi apenas uma preparação para a conquista definitiva a realizar-se neste segundo jogo. Quando este time entrar em campo, nada mais poderá detê-los.

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